Homenageado 2014

Em dezembro passado, quando redigia o editorial da Revista Ética nos Negócios lançada naquela época, não poderia imaginar que o ano de 2015 seria, infinitamente, mais difícil de ser enfrentado do que o de 2014. Tudo porque se agravaram os problemas econômicos de uma crise anunciada pelos constantes equívocos do governo federal. Se o resultado das empresas foi impactado negativamente, imagine o das instituições do terceiro setor, como é o caso do Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios que se mantém ativo apenas em razão do investimento da iniciativa privada.

A crise é tão avassaladora, nociva e danosa que, até a maior publicação de negócios e economia do país, precisou publicar o Guia da Sustentabilidade encartado dentro de uma edição quinzenal da revista, e não como uma publicação especial, como foi feito desde a primeira edição, há mais de 15 anos.

Contudo, eu estou bem certo que 2015 ficará na história! Será lembrado como o ano da página virada, o ano do divisor de águas nas questões que envolvem a Ética nos Negócios. Tudo em função dos desdobramentos da Operação Lava-Jato que vem desnudando a promiscuidade entre o público e o privado, e por causa disso, está acontecendo uma revolução silenciosa dentro e fora dos muros das empresas. Os departamentos de Ética & Compliance estão sendo melhor aparelhados, os executivos e seus colaboradores que lá se encontram, tem recebido missões especiais do Board para intensificar as ações para melhorar a qualidade ética junto aos Stakeholders internos e externos. No mercado, os brasileiros e brasileiras estão se dando conta dos estragos que a corrupção produz e começam a se despertar para cobrar atitudes mais éticas das empresas nas quais figuram como clientes ou consumidores, sob pena deixar seus produtos e serviços nas prateleiras, impondo um risco que nenhuma empresa quer correr: o apagar das luzes e fechamento das suas portas!

Em virtude deste marco ético em nosso país, o homenageado da edição 2015 do Prêmio Ética nos Negócios, ao invés de ser um executivo ou empresário com um grande legado no meio empresarial nacional, decidimos prestar uma merecida homenagem a pessoa que está contribuindo para esta mudança de paradigma em nosso país e melhorando a qualidade ética das empresas e dos negócios. Sim, se você pensou no juiz Sergio Moro, acertou em cheio!

Quando estive em seu gabinete, na Justiça Federal de Curitiba, para lhe entregar o troféu desta premiação, ao apertar sua mão, disse que eu era um cidadão privilegiado por ter a honra de cumprimenta-lo e agradece-lo por tudo que ele estava fazendo pela Ética nos Negócios em nosso país, como era o desejo de milhares e milhares de brasileiros do bem. Como resposta, ele sentenciou com um sorriso: “Eu só estou fazendo a coisa certa!”.

Confesso que comecei a refletir sobre esta frase e não pude deixar de fazer uma analogia com a minha própria história. Enquanto o juiz Sergio Moro, ao fazer a coisa certa, está pagando um alto preço, pois, além de virar celebridade nacional e devendo estar evitando passear no parque com seus filhos ou ir ao shopping com sua esposa com a tranquilidade pré-Operação Lava-Jato, sua vida deve estar rodeada de seguranças para proteger e preservar sua integridade física e de toda a sua família. Eu, ao fazer a coisa certa, cumprindo as palavras e o espírito do código de ética de uma das maiores empresas do planeta, prestei denúncia aos canais internos e fui demitido em represália e, mesmo invocando a comissão de ética e, posteriormente, o Board, que é a maior autoridade no palco do mercado e nos bastidores da empresa, a personificação da Corporate Governance e o Big Boss de todos os executivos, incluindo o CEO global bem como é o responsável por zelar pelo código de ética e, acima de tudo, é o “Guardião da Ética”, continuei sendo vítima da minha própria denúncia, pois, depois de matar o whistleblower no Brasil, a empresa tenta fazer o mesmo na Itália, ao manter na Justiça italiana uma ação judicial frívola, exigindo uma indenização de 30 milhões de Euros, por calúnia e difamaçã

Porém, mesmo eu tendo a minha carreira corporativa destruída nestes mais de 14 anos e ter perdido minha aposentadoria, eu faria tudo outra vez! Fazer a coisa certa, vale muito a pena! Ser ético vale a pena, sempre! Seja como pessoa, como cidadão, pai de família, empresário e funcionário.

Douglas Linares Flinto
Fundador & Diretor-Presidente
Instituto Brasileiro de Ética nos Negócios